4 de mai. de 2008

Algumas coisas nós só entendemos depois de algum tempo

Logo que chegamos em Fortaleza não entendemos várias coisas, nem mesmo o que eles falavam. Eles falam tão enrolados, com o som tão fechado e as vezes rápido, que não dá para entender nada do que dizem. Levamos 1 ano para nos acostumar com o modo de falar das pessoas daqui e começar a entender melhor o que diziam. Mas ainda hoje, algumas vezes, não entendemos algumas palavras.

Mas não é sobre isso que quero falar aqui. Fiz uma pequena lista de coisas que acontecem na cidade e que nós não entendíamos o porquê.

- muitos motoqueiros buzinam em todas as esquinas que passam. Nós achávamos aquilo tão estranho e até mal educado, mas depois de um tempo entendemos que o motivo para tanta buzina é que os carros não param nas esquinas e muitas vezes não param nem nos sinais. Os motoqueiros tem medo e buzinam, mesmo estando na preferencial, para avisar que estão passando;

- nas filas, as pessoas param quase grudadas na gente. É muito desconfortável. Eu sempre aprendi que devemos deixar um braço de distância da pessoa da frente, mas aqui eles grudam, é horrível. Mas depois de um tempo é possível entender o motivo: ninguém respeita fila! As pessoas tentam furar a fila o tempo todo, então se deixar um espaço entre você e a pessoa da frente, é bem possível que alguém vai se enfiar no meio, dizendo na maior cara de pau que não tinha vista que era uma fila... Eles chegam pelos lados, por qualquer lugar e sempre tentam entrar lá no início da fila;

- outra coisa que achávamos muito estranho são as pessoas caminhando nas ruas em vez de caminhar nas calçadas. Eu achava falta de educação, além de ser perigoso. Mas rápido se aprende o motivo: quase não existem calçadas por aqui. É, isso mesmo. Muitas calçadas são quebradas, outras estão cheias de carros estacionados, umas tem tantos buracos e sujeira que nem dá para passar, outras não existem porque os estabelecimentos comerciais constroem até a rua, e umas dão tantas voltas, sobem escada, descem escadas, para desviar do estacionamento que acaba sendo mais prático passar pela rua mesmo;

- existem muitas pessoas pedindo esmola. No começo eu ficava com pena, afinal são pessoas necessitadas, mas com o tempo a gente acaba entendendo que é necessário ignorar, não dar mais bola para isso porque tem uma pessoa pedindo em cada esquina. Pedir esmola em Fortaleza virou uma profissão, assim como os flanelinhas (oh gente irritante);

- depois de um tempo a gente também entende que é necessário falar devagar, muito devagar para que eles possam anotar as coisas. Não adianta falar, por exemplo, o endereço rápido porque eles não conseguem entender e anotar com agilidade, então você acaba repetindo umas 3 ou 4 vezes até que conseguem anotar. É melhor falar bem devagar, sílaba por sílaba. Mesma coisa acontece com o sabor da pizza que pedimos, até que conseguem anotar o apartamento, já esqueceram o sabor. Se pedir uma água sem gás, com gelo e laranja, nem preciso falar que vem tudo errado né. É muita informação de uma vez só. Tudo é muito devagar por aqui;

- outra coisa que se aprende é que sempre, mas sempre mesmo, que marcar um compromisso com alguém, pegue o telefone da pessoa. A chance de a pessoa não aparecer, ou ao menos chegar com algumas horas de atraso, é muito grande. Então se você tiver o telefone, pode ligar confirmando. Se não ligar, é bem provável que ficará o dia todo esperando a toa;

- é preciso aprender a pechinchar. Depois de algum tempinho se percebe que os preços para nativos e para “turistas” é diferenciado. Eu acho muito chato, na verdade uma falta de respeito, uma enganação, os vendedores de rua cobrar mais caro de quem tem cara de turista. O preço tem que ser o mesmo para todos, o preço verdadeiro. Mas eles cobram mais, e sempre. Então é necessário aprender a pechinchar, se consegue desconto em tudo;

- depois de um tempo a gente se conforma que independente de onde for morar, sempre terá uma "favela" por perto. Mesmo que more nos melhores bairros da cidade (Meireles e Aldeota), sempre terá umas casinhas muito simples, áreas invadidas, próximo. É tudo muito misturado, então não adianta ficar se mudando toda hora porque sempre terá construções feias por perto;

- enfim, depois de um tempo a gente percebe que por aqui ninguém tem respeito uns pelos outros, que o povo é totalmente individualista e cada um faz o que é melhor para si, sem se importar com as outras pessoas. Na verdade se aprende que Fortaleza é uma cidade sem leis, sem regras, cada um faz o que quer!